
Uma equipe do Plantão Integrado dos Direitos Humanos, coordenada pela COETRAE do Governo da Bahia, identificou diversas violações de direitos e indícios de trabalho análogo à escravidão durante o Carnaval de Salvador. Durante inspeções realizadas nas imediações do circuito Dodô, especialmente no bairro da Barra, os trabalhadores — em sua maioria cordeiros e cordeiras — relataram jornadas exaustivas, longos deslocamentos e condições precárias, que incluem desde a falta de equipamentos de proteção até a insuficiência dos kits de alimentação e hidratação disponibilizados pelos blocos.
Além das condições degradantes impostas pelos contratantes, os relatos apontaram episódios de agressividade por parte dos foliões, como empurrões e desrespeito às entradas e saídas dos trabalhadores. Uma cordeira, que preferiu manter o anonimato, afirmou sair de casa antes das sete horas e só retornar após a meia-noite, enfrentando a carência de recursos básicos, como água suficiente e proteção contra intempéries, o que evidencia o caráter abusivo e coercitivo do trabalho realizado.
Os elementos apontados, que envolvem jornadas exaustivas, remuneração inadequada e condições insalubres, reforçam a tipificação do trabalho como análogo à escravidão. Hildete Souza, coordenadora do COETRAE, ressaltou que o Carnaval serve como um espelho das desigualdades sociais e das dinâmicas de poder que permeiam a sociedade, especialmente em um contexto marcado pelo racismo e pela exploração de mão de obra negra. Diante dos relatos, a COETRAE planeja acionar os órgãos municipais, estaduais e federais para que sejam tomadas medidas de proteção e reparação, responsabilizando tanto os blocos quanto os órgãos públicos envolvidos.
Fontes: O Globo e Alma Preta Jornalismo